segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Newsletter nº 26 - Cada um tem seu valor


Li várias coisas sobre o papel de cada um e pensei que seria interessante escrever sobre interrelação, mas achei um texto que vai um pouco mais além e mostra que cada um tem seu imenso e único valor e luz.
Espero que gostem.
O Quebrador de Pedras
Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito consigo mesmo e com sua posição na vida.
Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante. Através do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos e importantes figuras que freqüentavam a mansão.
- Quão poderoso é este mercador! - pensou o quebrador de pedras.
Ele ficou muito invejoso disso e desejou que ele pudesse ser como o comerciante.
Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante, usufruindo mais luxos e poder do que ele jamais tinha imaginado, embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e ricos do que ele.
Um dia um alto oficial do governo passou à sua frente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado por submissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos para afastar a plebe. Todos, não importa quão ricos, tinham que se curvar à sua passagem.
- Quão poderoso é este oficial! - ele pensou. - Gostaria de poder ser um alto oficial!
Então ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de seda para qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas à sua volta. Era um dia de verão quente, e o oficial sentiu-se muito desconfortável na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Este fulgia orgulhoso no céu, indiferente pela sua reles presença abaixo.
- Quão poderoso é o Sol! - ele pensou. -Gostaria de ser o Sol!
Então ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lançando seus raios para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldiçoado pelos fazendeiros e trabalhadores
Mas um dia uma gigantesca nuvem negra ficou entre ele e a terra, e seu calor não mais pôde alcançar o chão e tudo sobre ele.
- Quão poderosa é a nuvem de tempestade! - ele pensou - Gostaria de ser uma nuvem!
Então ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas, causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estava sendo empurrado para longe com uma força descomunal, e soube que era o vento que fazia isso.
- Quão poderoso é o Vento! - ele pensou. - Gostaria de ser o vento!
Então ele tornou-se o vento de furacão, soprando as telhas dos telhados das casas, desenraizando árvores, temido e odiado por todas as criaturas na terra.
Mas em determinado momento ele encontrou algo que ele não foi capaz de mover nem um milímetro, não importasse o quanto ele soprasse em sua volta, lançando-lhe rajadas de ar. Ele viu que o objeto era uma grande e alta rocha.
- Quão poderosa é a rocha! - ele pensou. - Gostaria de ser uma rocha!
Então ele tornou-se a rocha. Mais poderoso do que qualquer outra coisa na terra, eterno, inamovível. Mas enquanto ele estava lá, orgulhoso pela sua força, ele ouviu o som de um martelo batendo em um cinzel sobre uma dura superfície, e sentiu a si mesmo sendo despedaçado.
- O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?!? - pensou surpreso.
Ele olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras.
Texto retirado do site http://manancialdeluz.blogspot.com

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Ver e Tocar


Texto de Rubem Alves 
Escolhi este texto para a newsletter Cloliê porque o ato de traçar vai muito além do ver e representar, tem a ver com este texto lindo. Boa leitura e obrigada a Rubem Alves por tanta sabedoria compartilhada.
"Ai, que mau teórico eu sou! Não admira que rigorosos professores de pós-graduação freqüentemente repreendam seus orientandos por incluir citações minhas nos seus projetos de tese! “ Rubem Alves não é cientista. Ele é um escritor!” Eles estão cobertos de razão. Não sou cientista. A ciência pensa através de conceitos abstratos. Eu penso através de imagens. São imagens que me fazem pensar. Mais do que isso: é através das imagens que tento ensinar. E ao convocar minhas idéias para escrever esse artigo foram imagens que acudiram ao meu pedido de socorro.
Eu me vi viajando com meus filhos pequenos de 8 e 6 anos de idade. Do lado de fora do carro cenários deslumbrantes, uma festa para os olhos. Eu, pai educador, queria contribuir para a educação dos sentidos dos meus meninos. Mostrava-lhes os cenários. Queria que eles aprendessem a alegria de ver. Mas eles não viam. Não demonstravam o menor interesse pelas longínquas montanhas que me tiravam o fôlego. Para me apaziguar e para que eu não os chateasse mais, talvez dissessem: “Que legal!” Mas era da boca para fora. Logo voltavam ao seu foco de interesse: o espaço apertado do banco de trás do carro onde se encontravam. E ali ficavam absortos, brincando com seus carrinhos de plástico. Custou-me tempo para compreender que as crianças vêem com as mãos. O puro “ver” não lhes é suficiente. O “ver” só lhes interessa como meio para se tocar um objeto. Pegar para ver.
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É o tato que dá sentido à vista. O nenezinho vê, estende seus braços, pega o objeto e o leva à boca. A boca uma dupla função. Primeira, ela suga o leite do seio da mãe. Função prática. O seio como objeto da “caixa de ferramentas”. Segunda, a boca sente a maciez deliciosa do seio. Prazer tátil. O seio como objeto da “caixa de brinquedos”. Mesmo depois que o seio seca, cessando assim sua função prática de alimentar, a criança quer continuar a sugar. Por que esse gesto inútil? Porque a sensação tátil é gostosa. Essa relação primitiva boca-seio contém toda uma teoria metafísica: o mundo é comida. Mais do que comida; o mundo é macio. É por isso que aquele que ama deseja beijar o seio da mulher amada. Parodiando Santo Agostinho: “O que é que beijo quando beijo o seio da mulher amada?” Rilke via, no rosto da amada, estrelas e constelações tranqüilas. Beijo o seio, sim, mas também uma outra coisa: um mundo que deve ter a maciez do seio. Os ursinhos de pelúcia que as crianças abraçam – e os travesseiros macios e perfumados que abraçamos – não contém eles uma lição de metafísica semelhante, uma teoria de como o mundo deveria ser?
Bachelard chama a nossa atenção para a “obsessão ótica” da nossa tradição científica. A palavras “teoria” vem do Grego “theoria”, que quer dizer “contemplar”, “olhar”. Mas, para se ver, é preciso que o objeto esteja distante dos olhos e, portanto, do corpo. Nossa tradição separou a visão do toque. As crianças se recusam a esse corte. Nas lojas de brinquedos os pais conscientes dizem aos filhos pequenos: “Mãozinha para trás...” Eles sabem que, nas crianças, a visão quer tocar. Bachelard nos pergunta, então, se a matéria não tem uma realidade que só pode ser conhecida pelo tato. O jeito de cumprimentar, de abraçar, não dá a conhecer uma pessoa? Aquele “toque” no braço de Fernando Pessoa ( artigo “ Tato” ) o levou a uma experiência de mundo. É assim que ele termina o seu poema: “Assim a brisa nos ramos diz uma imprecisa coisa feliz...” Não é o toque apenas pelo prazer. É o toque para aprender.
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Veja os livros, por exemplo. Todos sabem que os livros são para ser lidos. Eles são dados à visão. Mas antes de gozar a sua leitura, eu gozo um livro como objeto tatil. Eu o seguro nas minhas mãos, sinto a textura da capa, das folhas. Nós os conhecemos primeiro com as mãos. Há livros que pedem para serem acariciados, alisados. Minha mão alisando um livro: essa experiência pode provocar meu desejo de lê-lo, ou não.
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O tato contém um saber. Talvez, uma provocação ao saber. Faz-nos pensar. Teríamos então de pensar o tato como uma das experiências essenciais que devem acontecer no espaço escolar. O tato incita a inteligência. Há muitos pensamentos que brotam das mãos. Uma mão ferida pensa um martelo. Por que haveria o cérebro de pensar o martelo se a mão não estivesse ferida? Uma mão que segura um cassetete tem, necessariamente, de fazer o cérebro pensar em golpes, da mesma forma como um revólver não mão, ainda que sem balas, nos obriga a fazer pontaria. A ostra constrói a pérola por causa do tato. O grão de areia a faz sofrer. Seu corpo então pensa uma coisa lisa que não a faça sofrer...
Nunca li nada sobre a relação entre o tato e a inteligência. Essas são minhas primeiras idéias. Não sei como ligá-las ao espaço escolar. Mas sei que o espaço escolar deve ser como o seio. Deve dar leite e deve ser macio. Como o seio da Da. Clotilde..."
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Texto - Rubem Alves
Desenhos de alunos do Cloliê
Fotos dos alunos tocando a árvore desenhada na parede por Soraya Lucato

sábado, 6 de agosto de 2011

Equilíbrio


Para educar é preciso ser educado e com isso vai a máxima do avião - “Em caso de despressurização, máscaras de óxigênio cairão, coloque primeiro em você e depois numa criança...”, pois é, vamos pensar nisso na hora de educar, não adianta criarmos “super crianças” que fazem muitas coisas para serem adultos bem sucedidos, enquanto os pais trabalham muito para pagar todo esse custo e o resultado é o stress e a frustração, que certamente será mais forte na educação de uma criança do que qualquer curso que ela faça. 
O aprendizado é mais por imitação do adulto do que por aprendizado seja por leitura, conversa ou qualquer outro suporte.
Vamos nos educar, reconhecer o prazer de viver, o prazer de fazer o que fazemos, sejamos felizes e certamente nossos filhos também o serão.
Por isso escrevo neste texto a importância do caminho do meio, o equilíbrio, tudo sem exagero, desde que seja do bem, fará o bem. 
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Busque seu equilíbrio e seu filho será equilibrado e feliz sem nenhum esforço.
Para que nós adultos possamos nos entender melhor, ter uma capacidade de observação e atenção e mais amor em tudo o que fazemos encaminho este texto para reflexão da semana.
“Há muitos anos, havia no oriente, um velho mestre que morava em um local de difícil acesso. Ele vivia em uma caverna que ficava atrás de um imenso lago de água extremamente salgada e de tonalidade bastante escura. 
A única forma de chegar até ele era atravessando o lago, pois atrás da caverna havia um profundo abismo.
Como a fama de sua sabedoria já havia corrido o mundo, inúmeros candidatos vinham até o velho mestre, pedindo que ele os aceitasse como discípulos. Embora o velho estivesse disposto a ensinar, sentia que para alcançar a sabedoria, seria necessário que o candidato provasse sua dignidade.
A prova por ele estabelecida era a seguinte: o candidato deveria atravessar o lago, sem utilizar nenhum tipo de embarcação, trazendo nas mãos uma flor de acácia. Se a flor lhe fosse entregue sem murchar, o candidato seria aceito.
Durante anos muitos tentaram, sem obter sucesso, porque devido à alta salinidade do lago, os candidatos sempre acabavam por deixar que a flor perecesse. A maioria deles tentava ir bem próximo às margens, pois acreditavam ser esse o melhor caminho. Entretanto, tal trajeto só fazia aumentar o percurso, que por si só, já era bastante longo.
Certo dia foi até ele um jovem chamado Ovídio, também disposto a vencer o desafio. Ovídio era um jovem inteligente e suas intenções eram sinceras e o mestre desejou, em seu coração, que o rapaz fosse mais feliz que os demais, na execução da tarefa.
Ovídio já havia visto muitos de seus amigos tentarem a travessia sem sucesso, e sendo bom observador, percebeu que eles sempre tentavam nadar pela beirada próxima à margem. Decidiu então fazer um caminho diferente resolveu seguir sua intuição e tentar o caminho do meio. Foi uma decisão bastante difícil, pois estando no meio de um lago tão extenso não seria possível retornar caso algo não corresse bem, mas sua decisão estava tomada, e ele não pretendia voltar atrás.
Pegou a mais bela flor de acácia que encontrou e dirigiu-se para o centro do lago. Nadou uns poucos metros e, então, percebeu que o lago parecia ser mais raso no centro. Arriscou ficar em pé e logo viu que podia fazê-lo com facilidade.
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A partir daí caminhou, tranqüilamente até a outra margem, onde o mestre já o aguardava, com um sorriso nos lábios.
Ao chegar, Ovídio entregou a flor intacta ao mestre, que a recebeu com alegria, dizendo:
  • Hoje você teve sua primeira lição. Na vida, assim como você percebeu ao atravessar o lago, o melhor caminho é sempre o caminho do meio. Em tudo o que fizermos na vida deve haver equilíbrio e moderação. Devemos ser moderados no comer, no beber, etc. 
É importante dar um passo de cada vez, sem pressa e sem pular etapas.”
Texto da filosofia chinesa 
Desenhos Soraya Lucato